O setor movimentou R$ 79,2 bilhões de janeiro a julho, com faturamento 12,7% superior ao do mesmo período do ano passado. Mas apesar dos números, as incertezas em torno da Covid-19 e o maior nível de exigência do consumidor impõem desafios extras para as farmácias e drogarias.
Paulo Paiva, vice-presidente Latam da Close-Up International e que deu início ao painel, destacou alguns desdobramentos da pandemia para a cadeia farmacêutica. “Por pressão de custos, a indústria tende a promover uma migração estratégica dos princípios ativos hoje concentrados na China e na Índia. Olhando para o varejo, as projeções de queda do PIB afetam a renda do consumidor e fazem despencar a cobertura de saúde privada. Em médio prazo, isso poderá criar barreiras para acesso a medicamentos e comprometer as atuais margens do setor”, adverte.
Na sua visão, os genéricos podem assumir um novo patamar pelo fator preço. Outro dado relevante é o aumento de 16% nas prescrições das sete principais classes terapêuticas ligadas ao sistema nervoso central. Os produtos OTC vêm perdendo espaço na cesta do cliente, enquanto suplementos e vitaminas seguem em franca ascensão. “Mas todos esses indicadores podem mudar em função da total incógnita sobre o combate ao coronavírus. Teremos vacina? Se a tivermos, a imunização será lenta?”, pondera.
Paiva, porém, foi taxativo ao afirmar que o momento é ideal para repensar o sortimento e o modelo de lojas. “O consumidor deverá ir à farmácia com menos frequência, mas precisará encontrar todos os produtos que deseja quando estiver na loja. O varejo terá a obrigação de acelerar o conceito de drugstore e reforçar o foco em conveniência”, observa. Nesse quesito, ele entende que as grandes redes saem na frente por terem 78% das unidades com sortimento elevado, acima de 7,3 mil SKUs.
Será necessário também um novo olhar sobre a abertura de lojas, já que os PDVs deverão estar próximos a áreas de concentração residencial e não mais em zonas comerciais. “Isso dificulta as farmácias independentes e de menor porte, ao mesmo tempo em que gera uma saturação mais rápida do modelo de crescimento orgânico das grandes redes. Uma saída pode estar na aposta em cidades de menor porte, tendo os serviços farmacêuticos como alicerces”, aconselha.
Projeções otimistas x maturidade digital
Sydney Clark, vice-presidente sênior da IQVIA, apresentou perspectivas de crescimento do varejo farma até o fim do ano – de 7,5% a 8,5% em volume de unidades e 8,5% a 10% em valores. Nos últimos 12 meses até julho, as vendas totalizam R$ 132,9 bilhões, contra R$ 124 bilhões de janeiro a dezembro de 2019. Medicamentos para o tratamento de doenças crônicas, analgésicos, remédios contra azia, acidez e dor muscular, além das vitaminas, vêm sendo determinantes para essa evolução.
“Mas quando chegar 2021, com a Covid-19 sob relativo controle ou com uma vacina? O paciente continuará aderente ao tratamento? As vitaminas seguirão em alta? O varejo conseguirá retomar a comercialização de produtos que perderam espaço na prateleira?”, contesta. “São muitas as incertezas que dificultam a tomada de decisões. Um fato, entretanto, é inquestionável. As farmácias precisarão se adaptar a um shopper cada vez mais sofisticado e aberto a experiências multicanal”, acrescenta.
E é nesse ponto que o setor esbarra em mais um obstáculo: a transformação digital. Pesquisa recente da IQVIA, inclusive, apontou um descompasso na percepção sobre esse tema. Enquanto 58% dos executivos da indústria consideram os investimentos nessa área extremamente relevantes, apenas 31% dos varejistas compartilham do mesmo princípio. “É preciso haver uma maior convergência setorial. Só assim será possível proporcionar ao consumidor uma experiência digital mais eficiente, em sintonia com a jornada no ambiente da loja”, opina.
Fonte: Mercado e Consumo, com informações do portal Panorama Farmacêutico